Nessa última temporada pré-inverno de desfiles na Europa,em fevereiro passado,mas precisamente na saída escorregadia da Marc by Marc Jacobs, um grupo de repórteres tentava fugir da neve que caia mais forte perguntando em coro para todos que passavam se Bryan Boy ou Tavi Gevison (blogueira de 14 anos do Style Rookie) assistiram ao desfile. Assim, como uma tendência fashion que aparece de uma hora para outra, os blogueiros são as novas celebridades.
Tudo começou ano passado, quando a Dolce & Gabbana deslocou importantes compradores para a segunda fila dando lugar a alguns blogueiros de moda. Como se não bastasse, Marc Jacobs chegou a nomear uma bolsa sua “BB” em homenagem a Bryan Boy, a Rodarte se inspirou na adolescente Tavi em sua coleção para a Target e uma série de outras grifes passaram a garantir convites privilegiados aos bloggers para os desfiles.
Quinze minutos de fama ou o futuro da comunicação online? Ninguém arrisca um palpite, mas o fato é que os blogs já fazem parte da indústria da moda. Resta saber qual é o papel que devem cumprir.
Uma conferência que reuniu alguns dos blogueiros mais conhecidos da internet aqui em Nova York debateu essa superexposição. “Depois do hype, sempre há uma retraída”, disse o blogueiro de estilo de rua, Phil Oh, do Street Peeper. “Só não sei quando isso acontecerá”.
Para Susie Lau, blogueira veterana e autora do Style Bubble, a pergunta que poucos estão fazendo é: “De onde veio tudo isso?”. Segundo ela: “Estão todos muito deslumbrados com essa nova forma de comunicação, mas ninguém se perguntou seu real significado”.
E de fato, a relação que as grandes marcas cultivam com os blogs é bastante nebulosa. Há uma consciência de que não se pode dar as costas para a internet e para revolução das mídias sociais. Como conseqüência, muitas griffes viram nos blogueiros uma ferramenta de marketing poderosa. Ao mesmo tempo em que eles ajudam a imprimir uma imagem atual e sintonizada no que há de mais moderno, também geram uma imensa quantidade de mídia espontânea. Afinal, toda aquela discussão sobre o laço da Tavi não chegou a lugar nenhum, mas serviu para tornar ainda mais evidente a grife Dior.
As consequência a longo prazo, contudo, permanecem incógnitas: estariam as senhoras ricaças russas (aquelas que de fato têm dinheiro para movimentar a indústria da haute couture) dispostas a dividir os holofotes com uma pré púbere afetada?
Num período de desejos instantâneos e intimidades escancaradas, nada mais natural que o leitor sinta necessidade de uma informação mais próxima da sua realidade. Não que a opinião de editores, jornalistas e críticos perdeu sua importância, mas apenas se tornou distante da realidade do leitor, ou então mais próxima da indústria e do mercado. Numa época onde a individualidade é tão exaltada, faz sentido o leitor querer uma informação com opinião mais pessoal, com referências e associações com as quais se identifique, longe da Torre de Marfim onde vivem os críticos escolados. Aqui vale mencionar que o extremo oposto disso também é mal visto: blogs sem linearidade, feitos sem verdade, por figuras deslumbradas, são os grandes vilões da história. Talvez daqui brote o repúdio coletivo em relação a gente como Tavi e Bryan.
Difícil afirmar com precisão se as marcas estão de fato abraçando uma nova forma de comunicação, mais livre e próxima da realidade do consumidor, ou se estão apenas explorando o hype do momento. Mas a resposta talvez não esteja tão distante, basta relembrar uma frase de Anna Wintour da época em que assumiu o comando da “Vogue US”: “Moda não é arte, não é nem cultura. Moda é marketing”.
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