terça-feira, 24 de agosto de 2010

It People:Anna Dello Russo (Parte 3)

Você gosta então de ser um personagem que existe virtualmente?
Eu adoro ser chamada de “internet icon”! Se não fosse a internet, eu provavelmente não trabalharia como trabalho hoje. Sem a internet, eu teria desaparecido.
Como quer que as pessoas te vejam?
Quero que vejam que eu sou humana! Tenho minhas fraquezas, meus momentos, minhas manias, sabe?
E sobre a sua mania de vestir “looks de passarela”… Algo a declarar?
Existe um trabalho enorme, de meses e meses, até o look chegar à passarela! Tem o trabalho do estilista, que criou as peças. Depois do stylist, que estudou um melhor modo de combinar essas peças. Se ninguém repete o que está exatamente ali, esse trabalho é todo perdido, sabe? Vai embora, morre. Pode parecer superficial, mas para mim existe algo mais profundo nisso, em usar um “look de passarela”, não sei como definir.
Como podemos definir uma “fashion victim”?
Eu! A primeira de todas as fashion victims sou eu. Eu sou uma tela em branco, a moda pode desenhar o que quiser em mim. Sou obcecada, mas essa obsessão para mim não é um problema, eu adoro a moda. Por isso que trabalho bem com os japoneses, eles também são super obcecados por moda!
Apesar de tanta obsessão pela moda, a crise deu uma balançada na indústria. A moda italiana, como a francesa, inglesa e americana devem perder a hegemonia?
Sim, dá para sentir que isso vai mudar! O Japão, por exemplo, está se tornando mais importante. Não podemos esquecer do fenômeno irrefreável da China.Quem será o grande azarão, depois da crise? Pode ser simplesmente um país que nem mesmo imaginamos. E isso é a vida, é a impermanência da vida. É um pensamento muito bonito esse que estamos dividindo aqui, vero?
Sim, é verdade. O conceito de impermanência como “única coisa permanente” é oriental, não?
Sim, é oriental, e eu acredito nele. Acredito que tudo está em constante mutação. A humanidade no geral. E, não sei explicar o porquê, mas a moda é a primeira a sentir essa mutação. As mudanças chegam ao social depois de passarem pela moda. A moda tem antenas que captam isso primeiro.
E quais sinais suas antenas estão captando?
Já temos sinais fortes. E muito deles aconteceram por causa da Internet. Quando é que se pensou que existiria uma bambina como a Tavi [Gevinson]? Uma criança de 13 anos fazendo um blog de moda? Quando é que se imaginou que um garoto das Filipinas, o Brianboy, viraria essa personalidade que ele virou? Hoje está tudo aberto, tudo é possível. Quem for competente, vai conseguir o seu espaço. Caiu a máscara da imobilidade da moda, do que era frio, imóvel. Minhas antenas captam isso: não podemos mais ter certeza de nada _nada!_ que está por vir.
O que exatamente é essa “máscara que caiu”?
Imaginava-se que o mundo era feito de pessoas ricas, famosas, num infinito benessere (bem-estar). E agora, com a crise e a internet que mostra tudo, onde está o benessere? Onde estão os ricos e famosos? Estão pobres e desgraçados! Caiu tudo por terra, capisci? O tom como se falava era alto demais. Agora deu uma diminuída. A crise veio e deu uma chacoalhada tão violenta que é óbvio que tudo vai mudar. Já está mudando.
Qual a sua opinião sobre as publicações impressas na Era Digital?
Eu penso temos muitos jornais. Troppo, troppo. Nosso momento cultural vai selecionar o que é o melhor. E só o que for mesmo the best é que vai gozar do grande valor do papel. O valor do papel é estupendo, como o valor dos livros. Criar é bom, mas criação demais não adianta, não serve, non va bene.
Por que não?
Porque a criatividade deve ser respeitada, deve ter um tempo para ela. A criatividade é um dom, não dá para criar coisas como se faz sorvetes, pizzas.
Existe já uma discussão do conceito de “slow fashion”, o que você acha disso?
Quem já discute o slow fashion?
Foi discutido no evento Fashion Summit, em Copenhague, durante a COP15 for Climate Change.
Sim, eu acho que o futuro é esse, o futuro é o slow motion. Dá pra perceber que as quantidades estão diminuindo. Quase ninguém, por exemplo, está desenvolvendo pré-coleções. O produto tem que ser mais lento, ninguém consome assim com tanta velocidade. Perde-se a alma das coisas… Exato, slow fashion, como slow food…
Na sua opinião, então, é possível que se produza menos e ainda sobreviver?
A saída é a estrada do meio termo. Isso vale pra tudo, é preciso encontrar o caminho do meio. Cada um cuidar de si próprio e também pensar no mundo em volta. É por isso que eu medito, para trabalhar bem com as pessoas. Uma forma de salvar o planeta, para mim, é trabalhar o meu eu interior buscando a serenidade. Medito e tento passar essa mesma serenidade aos outros à minha volta.

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